Entre os 6 e 18 anos vivi à beira do Rio Guaíba, num edifício que ainda existe, à Pça. Rui Barbosa. Naquele tempo não existia o muro da Mauá, sendo o acesso ao rio direto e corriqueiro. Faziam parte da minha paisagem as ilhas do Pavão, Chico Inglês, da Casa da Pólvora, da Pintada.
O rio era intensamente navegado por barcos de
todos os tamanhos, desde canoas com ou sem motor, passando por
“gasolinas”, chatas (reboques sem motor), rebocadores, navios
graneleiros de todos os tamanhos e nacionalidades, até navios de grande
porte, como os dos Lloyd Brasileiro e Lloyd Nacional, e os de
passageiros da Cia. Navegação Costeira. Havia dessa Companhia dois tipos
de navios: os menores eram os Ita: Itajubá, Itaquera, os maiores os
Ara: Arabutã, Aratimbó. Faziam a linha Porto Alegre- Manaus.
Frequentemente o cais ficava tão lotado que era necessário que um ou
mais navios esperassem ao largo, às vezes um dia ou mais para poderem
atracar.
Divertia-me pescando ou passeando na beira do
cais, passando entre os guindastes e observando os navios, suas
bandeiras, suas gentes, muitas vezes de países distantes. Paralelo ao
cais corria trilho de trens, “maria fumaça”, que servia para integrar os
transportes ferroviário e hidroviário (de cargas). O tráfego de trens
era diário. No extremo oposto do porto (de então) havia o
“frigorífico”com sua fábrica de barras de gelo, defronte à Pça. Edgar
Schneider, com suas esculturas femininas estilo grego, e que ainda
existe e quase ninguém conhece, pois está escondida pelo muro.
Hoje tudo isso está praticamente desativado. Desaprendemos a usar os
transportes hidroviário e ferroviário. Optamos pelo transporte
rodoviário. Temos andado na contramão da história. Não atino a quem
poderá ter beneficiado tal desserviço.
Com o tempo o cais do porto foi ampliado até a ponte, mas isso não fez com que voltasse a ser usado adequadamente.
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Pça. Edgar Schneider - As Ninfas |
Foto antiga de um "Ita" |
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